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Crenças irracionais e a Terapia Racional-Emotiva Comportamental (TREC)

Foto do escritor: Laura GomesLaura Gomes

Por: Laura Gomes - Estudante de Psicologia da PUC-Rio | Estagiária do Carreira Psi



A Terapia Racional-Emotiva Comportamental (TREC) foi desenvolvida pelo psicólogo Albert Ellis, constituindo uma das vertentes da segunda onda das Terapias Cognitivos-Comportamentais (TCCs). Ellis enfatizava o impacto positivo que a postura ativa e colaborativa exercida pelo terapeuta ao longo do processo terapêutico poderia ter na melhora do paciente, e argumentava que as queixas e preocupações emocionais trazidas pelos pacientes no setting eram derivadas da visão de cada um acerca das circunstâncias – de suas interpretações –, e não pelas circunstâncias em si. E o que essa abordagem tem a ver com as crenças irracionais?



Ellis concluiu que os seres humanos têm uma predisposição biológica para desenvolver crenças irracionais como um mecanismo de defesa. No entanto, muitas vezes essas crenças tornam-se inadequadas e se perpetuam em nossa mente, gerando respostas disfuncionais.


Podemos entender crenças irracionais como sendo “expressões cognitivas de uma falta de vontade para aceitar um resultado não desejado da realidade vinculado ao esforço por conquistar algo positivo ou bloquear algo negativo” (DiGiuseppe et al., 2014).
 

Em “Questionamento Socrático para Terapeutas: aprenda a pensar e a intervir como um terapeuta cognitivo-comportamental”, (Waltman et al., 2023) compara as crenças irracionais ao conceito de pensamento automático postulado por Aaron Beck em seu modelo cognitivo, e esclarece ambos como sendo semelhantes. Apesar das diferenças teóricas entre essas abordagens, os autores enfatizam que o sofrimento emocional específico causado pelas crenças irracionais não é totalmente explicado pelos pensamentos automáticos. Além disso, ressalta a importância do terapeuta socrático focar tanto nas crenças irracionais quanto em outras cognições-chave como objeto de intervenção ao longo do processo terapêutico. Assim, o trabalho consistiria em identificar e desafiar essas estruturas – sejam pensamentos automáticos ou crenças irracionais – a fim de promover um modo de pensar mais racional e adaptativo.



Com base nessa compreensão, Ellis elaborou quatro tipos de crenças irracionais que podem predispor a consequências emocionais perturbadoras e podem ser consideradas fatores de vulnerabilidade cognitiva. São elas: demandas, catastrofização, intolerância à frustração e avaliação global.

  1. Demandas:  são crenças irracionais fundamentais (básicas ou primárias) que refletem expectativas irreais sobre si mesmo, os outros ou o mundo, muitas vezes expressas por termos como “devo” ou “tenho que”. Elas se dividem em três categorias principais:

    • Demandas sobre si: Geralmente vinculadas à ansiedade, geram sentimentos de vergonha e culpa quando não realizadas. Costumam ser expressas por frases como: "Devo ter sucesso".

    • Demandas sobre os outros: Relacionadas a emoções como ira ou raiva, e comportamentos de agressão ou violência quando os outros não atendem às expectativas. Podem ser verbalizadas como: "Ele/ela deveria agir de certa forma".

    • Demandas sobre o mundo: Essas demandas estão associadas a sentimentos de ansiedade, depressão, mágoa, falta de autodisciplina e comportamentos como procrastinação ou abuso de substância. São expressas por frases como: "A vida deveria ser fácil".

  2. Catastrofização: Refere-se à tendência de enxergar adversidades como as piores possíveis, enfatizando seus aspectos negativos e gerando medo e desespero, mesmo em situações menores.

  3. Intolerância à frustração: É a tendência de considerar acontecimentos difíceis ou incômodos como insuportáveis, acreditando-se incapaz ou sem recursos para suportar frustrações. Isso resulta na dificuldade de tolerar o grau de frustração necessária para enfrentar desafios e atingir metas.

  4. Avaliação global: É uma tendência de julgar a si mesmo, aos outros e ao mundo de forma absoluta com base em características ou comportamentos específicos, o que pode gerar sentimentos de inadequação e rejeição. Estão associados à uma valoração global pautada em uma perspectiva rígida e irracional, que desconsidera a complexidade e o contexto das situações.


Além das crenças irracionais, a TREC propõe ainda quatro formas de pensamento racional alternativas que atuam como fatores de proteção e promovem uma saúde emocional mais equilibrada e adaptativa. São elas: as preferências (substituição de demandas absolutas por preferências mais flexíveis); a visão moderada do mal (adotar uma visão mais moderada frente às situações difíceis, ao invés de enxergá-las como desastrosas ou intoleráveis); a tolerância à frustração (desenvolver a capacidade de tolerar e lidar com a frustração e a adversidade sem recorrer a reações extremas) e a aceitação incondicional (aceitar a si mesmo e aos outros sem estabelecer condições para tal aceitação, reconhecendo o valor de outros e de si apesar das imperfeições).



Referências:


EMMANUEL NOVAES LIPP, M, FABBRO SPADARI, G (Orgs), TERAPIA RACIONAL-EMOTIVA COMPORTAMENTAL na teoria e na prática, Novo Hamburgo, Sinopsys Editora, 2019.


DE, C.; PRAVATTA PIVETTA, F. II -RESENHA DE LIVROS. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://pepsic.bvsalud.org/pdf/bapp/v39n96/v39n96a14.pdf>.‌


WALTMAN, S. H. et al. Questionamento socrático para terapeutas: aprenda a pensar e a intervir como um terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2023.



 

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Obrigada pela leitura!



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